CONCURSO PÚBLICO PARA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE MONÇÃO

ESCRITÓRIO

OBRAS E PROJECTOS

1996   (co-autoria com Arqs António Lino, Ana Paula Santos e Pedro Petracchi)
Baluarte da Terra Nova, Monção
Projecto Base (3º Prémio)
Câmara Municipal de Monção

PLANTA/ CORTES/ ALÇADOS

ESQUISSOS

MODELO 3D

FOTOGRAFIAS

MEMÓRIA DESCRITIVA

 

Confiando que o novo edifício da Biblioteca de Monção sairá valorizado se integrar e respeitar as preexistências, concretamente a antiga escola primária e a mancha de vegetação que acompanha o desenho da muralha setecentista e se torna determinante para a qualidade ambiental do recinto, procurou-se que a massa edificada a construir de raiz se inserisse na plataforma correspondente ao baluarte, preservando o edifício e a totalidade das árvores existentes.
Esta opção de fundo determinou que a nova construção se implantasse na área liberta de árvores situada por detrás da escola, permitindo que o volume desta (expurgado dos anexos) ressurgisse com a máxima integridade e que a volumetria proposta, por seu turno, se afirmasse com nitidez, procurando, por contraste, estabelecer um diálogo equilibrado entre o antigo e o novo, sendo aquele renovado, reconvertido e integrado por este.

Deste modo, a memória do edifício escolar subsistirá encontrando eco num todo de que passou a fazer parte, tornando mais universal a função educativa que lhe está associada por acoplar as componentes informativa, cultural e lúdica que caracterizam uma Biblioteca.

Muito determinado pelo modo como é percebido a partir do exterior e no decorrer dos percursos de abordagem, o volume correspondente à sala de leitura (secção de adultos) surge como pano de fundo da escola, avançando em direcção à rua apenas o necessário para revelar a sua presença e anunciar a nova função. Dele se salienta, seguindo a tradição dos corpos balançados e envidraçados característicos da arquitectura vernacular do Noroeste peninsular, bem presente em Monção, o volume das rampas interiores feito transparente para revelar o seu conteúdo e sugerir, para quem se aproxima, o sentido do fluxo de gentes a caminho da entrada.

Assumindo a condição de equipamento situado num jardim, herdada da antiga escola, fez-se coincidir o acesso à Biblioteca com o acesso ao espaço verde onde se insere, colocando-o, sensivelmente, no mesmo local, no enfiamento da rua que estabelece a ligação à Praça da República e ao centro histórico da vila.

Transpondo o portão de entrada, ampliada e ajustada ao novo funcionamento, somos conduzidos pelo interior do jardim, através de uma rampa coberta pelas copas das árvores que a delimitam ou, optando pela escada, à Biblioteca que espreita ao fundo.
A rampa, alinhada com a Rua Engº Duarte Pacheco e devidamente calibrada para permitir a entrada eventual duma carrinha de carga, leva-nos a um patamar, a partir do qual podemos prosseguir, sempre em rampa, até à entrada principal, ou então, divergindo para o outro lado, aceder directamente à área de serviço interno; pela escada de dois lanços, teríamos alcançado de imediato a cota da plataforma do baluarte e, por conseguinte, estaríamos logo, praticamente, à cota da entrada dos edifícios.

O acesso à entrada principal da Biblioteca faz-se pelo espaço intersticial criado entre os dois volumes - o novo e o antigo - cuja disposição, ligeiramente angulada (cerca de 11 graus), permite definir um espaço contraperspéctico, cujo propósito é o de nos atrair e convidar ao ingresso, para logo nos abraçar e acolher, incitando-nos a ficar.

A articulação entre estes dois volumes é conseguida à custa do corpo central (de menor cércea) correspondente ao átrio - do qual deriva, aliás, o corpo que alberga as rampas interiores de circulação do público - que se assume como o elo de ligação entre ambos. Por isso, para além das ligações à antecâmara que dá acesso ao salão polivalente ou ao audiovisual, à rampa que conduz à sala de leitura ou à biblioteca infantil, ao serviço interno ou ainda às instalações sanitárias, desenhou-se uma ponte, que rasga o espaço de pé direito total do átrio e estabelece, efectiva e simbolicamente, a ligação dos novos espaços projectados para cumprir as novas funções e a antiga escola primária, que alberga, a este nível, a secção infantil.

Sob essa ponte, seguindo a sua direcção, delineou-se o balcão de atendimento que define a área de recepção.

Em relação à orgânica da solução, devemos salientar que se optou por situar os pisos do novo edifício, onde se situam as áreas de serviço interno e a secção de adultos, em níveis intermédios

 

 

 

em relação aos da escola primária. Face a esta disposição, foi possível utilizar rampas para vencer os desníveis no interior do edifício, numa desejada continuidade com as rampas exteriores, num processo gradativo ascensional desde a rua até aos diversos espaços da Biblioteca.

A inclinação suave destes elementos de ligação dos espaços permite, ademais, o acesso a deficientes, evitando a inclusão de um elevador, que tornaria a solução mais onerosa.

Por conseguinte, temos:
à cota 53,000
- o serviço interno, com entrada (incluindo patamar para cargas e descargas) e circulação completamente independentes das do público;
à cota 54,000 (cota do 1º piso da escola primária)
- o átrio
- situadas na área correspondente ao primeiro piso da escola, a sala polivalente (podendo também ela ter uma entrada autónoma, por uma das antigas portas da escola primária) e a secção audiovisual (a proximidade destes dois espaços permite a fácil articulação entre ambos para deslocação de material de projecção e para audições colectivas)
- os sanitários (incluindo instalação para deficientes), no topo Sul do edifício da sala de leitura;
à cota 55,875
- a sala de leitura da secção de adultos
à cota 57,750 (cota do 2º piso da escola primária)
- a secção infantil, situada no espaço correspondente ao segundo piso da escola primária
- as instalações sanitárias para crianças (situadas sobre as instalações sanitárias do piso inferior) e ainda uma área técnica.

Os acessos verticais que articulam os serviços internos com os diferentes níveis da biblioteca constituem uma caixa de escadas, que inclui um monta-livros dimensionado para conter um carrinho para transporte de documentação. A circulação do público, como já referido, é assegurada através de rampas.
Em relação à disposição das unidades funcionais no interior do edifício, diremos que se procurou conjugar as características dos espaços preexistentes da escola primária com os condicionamentos determinados pela envolvente próxima, com o objectivo-base de optimizar a circulação e o funcionamento.

Considera-se que, no antigo edifício da escola, poderá ficar a área polivalente e o audiovisual, à cota da entrada, situando o polivalente no topo Nordeste da escola, devido à maior proximidade à rua e facilidade de acesso, procurando responder à exigência programática que prevê a possibilidade do seu funcionamento autónomo.
No segundo piso situámos a secção infantil porque não quisemos ver o edifício da escola primária desligado da população que sempre o ocupou e, também, porque as crianças têm maior facilidade em atingir o piso situado a cota mais alta.

O átrio, estrategicamente situado para receber e encaminhar os leitores ocupa, naturalmente, o centro da Biblioteca. Varrido pela luz e pelos trajectos, cumpre a sua condição de espaço de articulação e de relação. Dele se desprende, como um braço, o contentor das rampas que, num movimento de vaivém, nos levam à "marquise" debruçada sobre a rua, dando entrada à sala de leitura ou, continuando o percurso ("promenade"), à secção infantil.

A sala de leitura da secção de adultos é separada das rampas por uma linha de livros e definida, do lado oposto, pela massa de vegetação visível através de um amplo envidraçado. É ao longo dessa parede verde exterior, que se procurou trazer para dentro do espaço interior, que se desenvolve uma mesa corrida destinada à leitura, mais especificamente a área de consulta local. Esta área, que se segue à zona dos periódicos e a secção de empréstimo com carácter mais informal, organiza-se através de nichos definidos por estantes/biombos, dispostos transversalmente segundo o alinhamento das linhas estruturais.
Na secção infantil, que se ajusta perfeitamente às características do espaço da antiga escola primária, colocaram-se mesas duplas perpendicularmente à linha de janelas, no mesmo alinhamento que tiveram outrora as carteiras da sala de aula, e definiu-se, no topo Sudoeste, com o auxílio de uma bancada, a área do conto.

 

 

JOÃO PEDRO XAVIER - ARQUITECTO, LDA