RECUPERAÇÃO DO JAZIGO DO PROF. DOUTOR ALBERTO SAAVEDRA |
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1985-88 Cemitério de Agramonte, Porto Obra Construída Família Saavedra |
MODELO 3D |
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No silêncio largo do lugar, por entre a ostentação recortada das pedras (na busca desesperada de perpetuar a lembrança) ecoa o grito natural daquela escultura verde moldada pelo tempo: uma árvore, feita afinal, de árvores. De resto, apenas a velha grade forjando ainda em ferro um recinto... e um pedestal para uma cruz igual a tantas outras. Um jazigo térreo comum (relativamente modesto), típico do fim de século passado, não fora as sementes plantadas em cada um dos seus vértices, hoje muito mais do que a confirmação de um gesto romântico. O caminho para a ideia, sentia-o gravado no verde daquelas quatro árvores. O primeiro passo era, evidentemente, deixá-las. Sabia ali, na perenidade das folhas, a certeza do futuro pela afirmação da memória. O homem, também ele, seguramente inesquecível: Alberto Saavedra. O busto do escultor António Azevedo, a expressão conseguida da sua identidade (as letras de bronze, cravadas no pedestal, um pormenor inevitável para
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os mais incautos). O material teria de ser verde e necessariamente nobre, como as árvores o eram e jamais poderão deixar de ser, embora e sempre sem qualquer alarde. Bronze e granito africano verde, como é conhecido, pedra que desconhecia e encontrei por acaso no percurso - que cheguei a julgar infrutífero - pelos canteiros. O desenho, com contornos em bronze (autêntica fronteira da intervenção), nasceu da necessidade de libertar espaços para as árvores - criando-lhes "caldeiras" - sendo ao mesmo tempo a concretização de um símbolo, a cruz do anterior pedestal, que surge agora dissimulada no pavimento com a ajuda da integração cromática perseguida com uma persistência quase obsessiva e pelo jogo de reflexos projectados pelo polimento da pedra. Reflexos difusos, de um espaço criado por árvores entrelaçadas pelos anos, por vezes nítidos, se algum raio de luz o trespassa. |
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